Myrian Rios, PEC 23 e Pedofilia
Teoricamente vivemos em um Estado Laico. Teoricamente. Durante o fim de semana rodou um vídeo onde a ex-atriz e atual apresentadora e deputada estadual Myrian Rios (PDT-RJ) se manifesta contra a PEC 23, que visa acrescentar orientação sexual no rol das vedações a discriminação da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, bem como o racismo e a intolerância religiosa. A deputada diz-se não-homofóbica, porém, diz claramente que não gostaria de empregar um funcionário homossexual. Vale ressaltar que Myrian Rios, eleita pelo excesso de votos do também apresentador Wagner Montes, é missionária e fervorosa integrante do movimento da Renovação Carismática. Palavras de Myrian Rios:
“Não sou preconceituosa e não discrimino. Só que eu tenho que ter o direito de não querer um homossexual como meu empregado, eventualmente. Por exemplo, digamos que eu tenha duas meninas em casa e a minha babá é lésbica. Se a minha orientação sexual for contrária e eu quiser demiti-la, eu não posso. O direito que a babá tem de querer ser lésbica, é o mesmo que eu tenho de não querer ela na minha casa. São os mesmos direitos. Eu vou ter que manter a babá em casa e sabe Deus até se ela não vai cometer pedofilia contra elas, e eu não vou poder fazer nada”, disse. “Se eu contrato um motorista homossexual, e ele tentar, de uma maneira ou outra, bolinar meu filho, eu não posso demiti-lo. Eu quero a lei para demitir sim, para mostrar que minha orientação sexual é outra”, completou, sem esquecer de citar passagens bíblicas e pedir que o Espírito Santo de Deus jogue fogo santo naquela câmara laica.
Ironia é uma integrante da Igreja Católica, onde registramos os mais hediondos casos de pedofilia, generalizar os homossexuais como pedófilos latentes. E, partindo do princípio Myrian Rios de lógica, eu posso, caso queira, não contratar e não receber em minha casa negros ou religiosos, por exemplo, afinal, eles poderiam eventualmente ensinar coisas que não quero aos meus filhos. O perigo que seria eu contratar uma babá católica, por exemplo. Ela ensinaria aos meus filhos coisas que eu não concordo e eu acho que tenho o direito de ser preguiçoso e não explicar certas coisas aos meus filhos e culpar sempre a babá por isso. Eu também tenho o direito de negar emprego a um negro. Não tenho um motivo claro, mas se Myrian Rios acredita estar no direito de demitir ou não contratar um homossexual pelo simples fato de não ser da mesma orientação sexual que a sua, eu posso barrar um negro por ser de uma etnia diferente da minha, não? E como os direitos devem ser iguais para todos, não deve existir qualquer problema em agredir uma mulher fisicamente, afinal, ela é uma pessoa como qualquer outra e essa Lei Maria da Penha vai contra a constituição. Por que deveriamos proteger uma minoria?
A igreja católica e seus praticantes dizem-se contra a prostituição, mas a partir do momento que acreditam ser justificável demitir um funcionário ou não empregar alguém por sua sexualidade, abrem as portas para tal prestação de serviços. Uma grande parcela de travestis e transexuais enveredam pela prostituição não pelo prazer, mas pelo preconceito, por ser a última alternativa de sobrevivência com o mínimo de dignidade. Enquanto deixarmos que religiões interfiram no Estado, estaremos presos ao século XV e jamais seremos um país que valoriza os direitos humanos. Associar a pedofilia, uma prática abominável e criminosa a qualquer forma de sexualidade é algo que nos remete a quão retrógrada está a mentalidade dos nossos representantes. Em um ano em que a ONU coloca a homofobia como uma das bandeiras a serem combatidas no mundo o Brasil vai na contra-mão da sociedade e massacra novamente uma parcela da sociedade, como fez tantas outras vezes. Se for por estastísticas, senhora Myrian Rios, existe muito mais risco de um heterossexual ser pedófilo do que um homossexual, face que quase 80% dos casos de pedofilia no mundo são praticados por pessoas exclusivamente heterossexuais. Julgar uma pessoa unicamente pela sua sexualidade seria o mesmo que menosprezar um funcionário por ser negro ou oriental, desqualificando totalmente o seu currículo. O que queremos é uma sociedade justa para todos. Um mundo sem diferenças. Por que um evangélico pode denunciar abusos contra sua fé (algo que ele escolheu, pois sim, religião é um escolha diferentemente da sexualidade que não importando qual seja, é algo inerente ao ser humano, ou seja, nasceu assim)? Com linhas de racionício tão ultrapassadas muito em breve o negro não terá mais alma, a mulher deverá voltar a submissão e o diferente será queimado em nome de Cristo. Cristo este que hoje deve estar pensando: vocês estão fazendo tudo errado. Exatamente o contrário do que preguei.